Como se fazem as leis? Democracia, grupos de interesse e controle de constitucionalidade.

Autores

  • André Rodrigues Cyrino Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Resumo

RESUMO: O controle de constitucionalidade das leis pelo Poder Judiciário, conforme parte significativa da literatura, é instrumento legítimo enquanto mecanismo de proteção e promoção da democracia. Todavia, apesar de o elemento democrático ser ponto chave nesse processo de legitimação, há pouco aprofundamento sobre a regularidade intestina ao processo político de formação da vontade legislativa no Brasil e a sua relação com o controle de constitucionalidade. Propõe-se, neste artigo, uma análise teórica e prática sobre o quão verdadeiramente deliberativo e saudável é o processo de formação de vontade legislativa no Brasil, de modo a compreender algumas possibilidades para o standard democrático como parâmetro de legitimação da jurisdição constitucional no País. Parte-se do arcabouço teórico que se convencionou denominar de public choice (teoria das escolhas públicas), o qual tem como foco o exame da vida política real. Com um olhar concreto, serão observadas as peculiaridades brasileiras, o seu denominado presidencialismo de coalizão e suas relações com grupos de interesse. Ao final, serão delineadas algumas possibilidades para a compreensão do argumento democrático no âmbito da jurisdição constitucional. Sugere-se que o teste da proporcionalidade seja uma ferramenta útil diante da percepção de situações de grave distorção do processo democrático.

Biografia do Autor

André Rodrigues Cyrino, Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Professor Adjunto de Direito Administrativo da Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Professor do Curso de Pós-graduação em Direito do Estado e da Regulação da Fundação Getúlio Vargas (FGV - Direito - Rio). Professor da FGV Direito Rio (licenciado). Doutor em Direito Público pela Faculdade de Direito da UERJ (com distinção, louvor e recomendação para publicação). Mestre em Direito Público pela Faculdade de Direito da UERJ. Master of Laws (LL.M.) pela Faculdade de Direito de Yale, nos EUA. Integra a Comissão de Direito Administrativo e a Comissão de Direito Constitucional do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB). É também Procurador do Estado do Rio de Janeiro e advogado.

Referências

ABRANCHES, Sérgio Henrique H. de. Presidencialismo de coalizão: o dilema institucional brasileiro. Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 31, nº 1, pp. 5-34. 1988.

ACKERMAN, Bruce. Beyond carolene products. Harvard Law Review, vol. 98, pp. 713-746, 1985.

ALSTON, Lee; Melo, Marcus André; MUELLER, Bernardo e PEREIRA, Carlos. Brazil in transition: beliefs, leadership, and institutional change. Princeton: Princeton University Press, 2016.

ÁVILA, Humberto. Teoria dos princípios, 3ª ed. São Paulo: Malheiros, 2004.

BARCELLOS, Ana Paula de. Ponderação, racionalidade e atividade jurisdicional. Rio de Janeiro: Renovar, 2005.

BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da Constituição, 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 2003.

BARROSO, Luís Roberto. Brasil: o caminho longo e sinuoso. Consultor Jurídico. 2016 http://s.conjur.com.br/dl/barroso-defende-reforma-eleitoral.pdf.

BINENBOJM, Gustavo. A nova jurisdição constitucional brasileira: legitimidade democrática e instrumentos de legitimação. 2ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2004.

_____________. Uma Teoria do Direito Administrativo. 2ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2008.

BRANDÃO, Rodrigo. Supremacia judicial versus diálogos institucionais. A quem cabe a última palavra sobre o sentido da Constituição?, 2ª tir. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2012.

BUCHANAN, James. The collected Works of James M. Buchanan, vol. 13: Politics as public choice. Indianapolis: Liberty Fund, 2000.

BUCHANAN, James e BRENNAN, Geoffrey. The reasons for rules. Constitutional political economy. Indianapolis: Liberty Fund, 2000.

_____________. Is Public Choice Immoral? The Case for the "Nobel" Lie. Virginia Law Review, vol. 74, nº 2, Symposium on the Theory of Public Choice, pp. 179-189, mar. 1988.

CARVALHO, Márcio André de. How logrolling can explain the failure of the government coalition in Brazil. RAP (Revista de Administração Pública), vol. 40, nº 5, Rio de Janeiro, pp. 865-882, set./out. 2006.

CATTONI DE OLIVEIRA, Marcelo Andrade. Devido Processo Legislativo: Uma justificação democrática do controle jurisdicional de constitucionalidade das leis e do processo legislativo, 2ª ed., Belo Horizonte: Mandamentos, 2006.

CLÈVE, Clèmerson Merlin. Presidencialismo de coalizão e administração pública. Migalhas de Peso, 2012 http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI163366,41046-Presidencialismo+de+coalizao+e+administracao+publica.

CRUZ, Álvaro Ricardo de Souza. Jurisdição constitucional democrática. Belo Horizonte: Del Rey, 2004.

CYRINO, André Rodrigues. Direito constitucional regulatório. Rio de Janeiro: Renovar, 2010.

_____________; e BINENBOJM, Gustavo. Direito à Moradia e a Penhorabilidade do Bem único do Fiador em Contratos de Locação Limites à revisão Judicial de Diagnósticos e Prognósticos Legislativos. In: SARMENTO, Daniel; SOUZA NETO, Claudio Pereira. (Org.). Direitos sociais Fundamentos, judicialização e direitos sociais em espécie.. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008.

DAHL, Robert. A preface to democratic theory, exp. Ed., Chicago: The University of Chicago Press, 2006.

DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do Estado. 26ª ed. São Paulo: Saraiva. 2007.

DJANKOV, Simeon; PORTA, Rafael La; LOPEZ-DE-SILANES, Florencio; e SHLEIFER, Andrei. “The regulation of entry”, in The Quartely Journal of Economics, vol. CXVII, fev. 2002, pp. 1-37.

DWORKIN, Ronald. Freedom’s law. The moral reading of the American constitution. Cambridge: Harvard University Press, 1996.

EISENHARDT, Kathleen M. “Agency Theory: An Assessment and Review”, in The Academy of Management Review, vol. 14, n. 1, 1989, pp. 57-74.

ELY, John Hart. Democracy and distrust. A theory of judicial review. Cambridge: Harvard University Press, 1980.

EPSTEIN, Richard. Takings, Cambridge: Harvard University Press, 1984.

FALCÃO, Joaquim (Org.). Mensalão: diário de um julgamento. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.

FAORO, Raymundo. Os donos do poder. 11ª ed. São Paulo: Globo, 1997.

FARBER, Daniel A. e Frickey, Philip P. Law and public choice. A critical introduction. Chicago: University of Chicago Press, 1991.

FIGUEIREDO, Argelina Cheibub e LIMONGI, Fernando. Instituições políticas e governabilidade. Desempenho do governo e apoio legislativo na democracia brasileira. In: MELO, Carlos Ranulfo; SÁEZ, Manuel Alcântara (Org.). A democracia brasileira. Balanço e perspectivas para o século 21, Belo Horizonte: UFMG, 2007, pp. 25-32.

HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia entre facticidade e validade. Vol. I. Rio de Janeiro: Tempo brasileiro, 1997.

HOLANDA, Sergio Buarque. Raízes do Brasil, 4ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

JORDÃO, Eduardo Ferreira. Restrições regulatórias à concorrência. Belo Horizonte: Fórum, 2009.

KRUEGER, Anne. The Political Economy of the Rent-Seeking Society. The American Economic Review, Vol. 64, nº 3, pp. 291-303, jun. 1974.

LIMONGI, Fernando. Presidencialismo, coalizão partidária e processo decisório. Novos Estudos – CEBRAP, São Paulo, nº 76, 2006.

LOSS, Giovani. Contribuições à teoria da regulação no Brasil: fundamentos, princípios e limites do poder regulatório das agências. In: ARAGÃO, Alexandre Santos de (Org.). O poder normativo das agências reguladoras. Rio de Janeiro: Forense, 2006.

MADISON, James, et al., O Federalista. 2ª ed, traduzido por Ricardo Rodrigues Gama. Campinas: Russel Editores, 2005.

MASHAW, Jerry. Greed, chaos and governance. Using public choice to improve public law. New Haven: Yale U. Press, 1997.

MELO, Marcus André e PEREIRA, Carlos. Making Brazil work. Checking the president in a multiparty system. Nova Iorque, Palgrave Macmillan, 2013.

MENDES, Gilmar Ferreira. Direitos fundamentais e controle de constitucionalidade: estudos de direitos constitucional. São Paulo: Celso Bastos, 1999.

_____________; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

MERCURO, Nicholas e MEDEMA, Steven G., Economics and the law. From Posner to Post-Modernism. 2ª ed., Princeton: Princeton University Press, 2006.

PEREIRA, Carlos; POWER, Timothy e RAILE, Eric. Presidencialismo de coalizão e recompensas paralelas. In: RENNÓ, Lúcio; INÁCIO, Magda (Org.). Legislativo brasileiro em perspectiva comparada. Belo Horizonte: UFMG, 2009, pp. 207-234.

PEREIRA, Jane Reis Gonçalves. Interpretação constitucional e direitos fundamentais, Rio de Janeiro: Renovar.

PETTIT, Philip. Republicanism: A Theory of Freedom and Government. Oxford: Oxford University Press, 1997.

RAGAZZO, Carlos. Regulação jurídica, racionalidade econômica e saneamento básico, Rio de Janeiro: Renovar, 2011.

ROSE-ACKERMAN, Susan. Análise econômica progressiva do direito – e o novo Direito Administrativo, trad. Mariana Mota Prado. In: MATTOS, Paulo et all. Regulação Econômica e Democracia – O Debate Norte-Americano. São Paulo: Editora 34, 2004, pp. 243-280.

_____________. Corruption and government. Causes, consequences and reform. Nova Iorque: Cambridge University Press, 1999.

ROWLEY, Charles K.. Public choice and the economic analysis of law. Law and economics, Boston: Klewer Academic Publishers, pp. 123-173. 1989.

RUBENFELD, Jed, “Usings”, in Yale Law Journal, vol. 102, pp. 1077-1164, 1993.

SAMPAIO, José Adércio. A Constituição Reinventada Pela Jurisdição Constitucional, Belo Horizonte: Del Rey, 2010.

SARMENTO, Daniel. A ponderação de interesses na Constituição Federal, 1ª ed., 3ª tir., Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003.

SARTORI, Giovanni. Engenharia constitucional: como mudam as constituições. Brasília: UnB, 1996.

SILVA, Luís Virgílio Afonso da. O proporcional e o razovável. Revista dos Tribunais, vol. 798, pp. 23-50. 2002.

SMITH, Adam. A Riqueza das Nações. Martins Fontes, 1ª ed. 2003.

SOUZA NETO, Cláudio Pereira. Teoria constitucional e democracia deliberativa. Rio de Janeiro: Renovar, 2006.

STIGLER, George J. A teoria da regulação econômica. In: MATTOS, Paulo. Regulação econômica e democracia. O debate norte-americano. São Paulo: Editora 34, 2004, pp. 23-48.

SUNSTEIN, Cass. Interest group in American public law, in Stanford Law Review, vol. 38, n.1, pp. 29-87. 1985.

TSEBELIS, George. Veto players. How political institutions work. Princeton: Princeton University Press, 2002.

TULLOCK, Gordon. The Welfare Costs of Tariffs, Monopolies, and Theft. Western Economic Journal, vol. 5, nº 3, pp. 224-232, jun. 1967.

VIEIRA, James Batista. O impacto das capacidades institucionais do setor público: um estudo exploratório sobre as causas e efeitos das improbidades na administração pública municipal brasileira. Prevenção e combate à corrupção no Brasil. Sexto concurso de monografias da CGU. Trabalhos Premiados, Brasília: ESAF, 2011 http://www.cgu.gov.br/concursos/Arquivos/6_ConcursoMonografias/resultado-compilado.pdf.

Downloads

Publicado

2016-12-29

Como Citar

Cyrino, A. R. (2016). Como se fazem as leis? Democracia, grupos de interesse e controle de constitucionalidade. Revista Brasileira De Estudos Políticos, 113. Recuperado de https://pos.direito.ufmg.br/rbep/index.php/rbep/article/view/419

Edição

Seção

Artigos