Metamorfoses do mundo do trabalho e o dano existencial: o direito à desconexão do trabalho
DOI:
https://doi.org/10.9732/rbep.v117i0.567Resumo
O artigo trata do dano existencial ao trabalhador provocado pelo meio ambiente do trabalho. O personagem kafkiano Gregório Samsa representa o trabalhador comum que, mesmo metamorfoseado, preocupa-se mais com o seu trabalho do que com a sua condição. As transformações do mundo do trabalho globalizado fragilizaram a vida e a identidade do trabalhador. As crescentes exigências laborais, as novas tecnologias, o aumento da produção e o trabalho repetitivo impossibilitam a desconexão do trabalhador. É necessário um meio ambiente do trabalho socialmente sustentável, onde o trabalhador goze do ócio criativo para a sua autodeterminação. No estudo, utilizou-se pesquisa bibliográfica por meio de livros, artigos, normas nacionais que ilustram a presença do tema no contexto brasileiro. Os julgados dos tribunais, em sua maioria, consideraram o direito à desconexão como fundamental para o trabalhador. O diálogo com a obra de Kafka e Chaplin ressignifica o trabalhador, colocando-o em evidência. A vida e o trabalho podem ser objeto de reflexões e de escolhas. O labor não precisa ser sinônimo de alienação, sustento e exploração. O diagnóstico e a quantificação do reparo ao dano existencial carecem de estudo mais aprofundadoReferências
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