Populismo judicial, moralismo e o desprezo à Constituição: a democracia entre velhos e novos inimigos

Autores

  • Eneida Desiree Salgado Universidade Federal do Paraná

DOI:

https://doi.org/10.9732/rbep.v117i0.594

Resumo

A previsão normativa de um Estado de Direito no Brasil é negada cotidianamente. Os mecanismos de controles recíprocos e a garantia de aplicação das regras jurídicas apresentam falhas, em franca negação à supremacia constitucional. Um novo agente de ataque ao constitucionalismo surge: o Poder Judiciário que atua segundo a moralidade subjetiva de seus agentes. O populismo, um inimigo íntimo da democracia, passa a ser protagonizado pelos magistrados, que ignoram as normas jurídicas para decidir sobre o que é justo. Decisões judiciais recentes evidenciam o argumento: usa-se a gramática da exceção para permitir que magistrados atuem para além do Direito em nome do interesse público ou de sua visão perfeccionista e até para restringir prerrogativas de agentes públicos eleitos democraticamente. O mesmo ocorre com o controle abstrato de constitucionalidade, com a suspensão de Emenda Constitucional por decisão monocrática sem fundamento jurídico e com o apelo a uma fictícia origem democrática de uma lei que ofende diretamente a Constituição – as normas constitucionais tornam-se irrelevantes. Um Estado de Direito não combina com heróis, ainda que togados: falta modéstia ao Poder Judiciário no cumprimento de sua função constitucional.

Biografia do Autor

Eneida Desiree Salgado, Universidade Federal do Paraná

Doutora em Direito do Estado. Professora de Direito Constitucional e Direito Eleitoral da Universidade Federal do Paraná. Pesquisadora líder do Núcleo de Investigações Constitucionais. Coordenadora do Politíca Por/De/Para Mulheres

Referências

BARROSO, Luis Roberto. A razão sem voto: o Supremo Tribunal Federal e o governo da maioria. Revista Brasileira de Políticas Públicas. Vol. 5, número especial, 2015.

COSTA, Pietro. O Estado de Direito: uma introdução histórica. In: COSTA, Pietro; ZOLO, Danilo (orgs). O Estado de Direito. História, teoria, crítica. São Paulo: Martins Fontes, pp. 95-198, 2006.

DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

DWORKIN, Ronald. O império do Direito. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

FERREIRA, Marcelo Ramos Peregrino. O controle de convencionalidade da lei da ficha limpa: direitos políticos e inelegibilidades. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2015.

GABARDO, Emerson. Os perigos do moralismo político e a necessidade de defesa do direito posto na Constituição da República de 1988. A&C – Revista de Direito Administrativo & Constitucional, Belo Horizonte, ano 17, n. 70, pp. 65-91, out./dez. 2017.

MACHADO, Igor Suzano. A decisão judicial entre a hermenêutica moral e a articulação política. Revista Brasileira de Estudos Políticos, Belo Horizonte, n. 109, pp. 365-409, jul./dez. 2014.

MÜLLER, Friedrich. Metodologia do Direito Constitucional. Tradução Peter Naumann. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010.

MÜLLER, Jan-Werner. Populist Constitutions — A Contradiction in Terms?, Int’l J. Const. L. Blog, Apr. 23, 2017, at http://www.iconnectblog.com/2017/04/populist-constitutions-a-contradiction-in-terms/

NOVAIS, Jorge Reis. Direitos fundamentais: trunfos contra a maioria. Coimbra: Coimbra ed., 2006.

PAP, András László; ŚLEDZIŃSKA-SIMON, Anna. Mandatory Voting as a Tool to Combat the “New Populism”, Int’l J. Const. L. Blog, Apr. 19, 2017, at: http://www.iconnectblog.com/2017/04/mandatory-voting-and-the-new-populism

RESENDE, Ranieri Lima; VIEIRA, José Ribas. Judicial review e democracia: caminhos para um controle dialógico de constitucionalidade. Revista Brasileira de Estudos Políticos, Belo Horizonte, n. 113, pp. 49-74, jul./dez. 2016.

REZENDE, Maurício Corrêa de Moura. Democratização do Poder Judiciário no Brasil. São Paulo, Editora Contracorrente, 2018.

SALAZAR UGARTE, Pedro. La democracia constitucional: Una radiografia teórica. México: FCE, II-UNAM, 2006.

SALGADO, Eneida Desiree. Essay on the constitutional promises of democracy and republic. Revista de Investigações Constitucionais, Curitiba, vol. 4, n. 3, pp. 85-100, set./dez. 2017.

SALGADO, Eneida Desiree. Lei de Acesso à Informação (LAI). Comentário à Lei nº 12.527/2011 e ao Decreto nº 7.724/2012. São Paulo: Editora Atlas, 2015.

SÁNCHEZ MORÓN, Miguel. Discrecionalidad Administrativa y Control Judicial. Madrid: Tecnos, 1995.

SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais: uma teoria geral dos direitos fundamentais na perspectiva constitucional. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010.

SCHMITT, Carl. Teología política. Madrid: Editorial Trotta, 2009.

TODOROV, Tzvetan. Los enemigos íntimos de la democracia. Barcelona: Galaxia Gutemberg, 2012.

Downloads

Publicado

2018-11-15

Como Citar

Salgado, E. D. (2018). Populismo judicial, moralismo e o desprezo à Constituição: a democracia entre velhos e novos inimigos. Revista Brasileira De Estudos Políticos, 117. https://doi.org/10.9732/rbep.v117i0.594

Edição

Seção

Artigos