A razão contra a História
pressupostos do Direito Natural Contratualista na Modernidade
DOI:
https://doi.org/10.9732/2021.v123.652Resumo
CONTEXTO: O pensamento filosófico político e jurídico da primeira modernidade foi dominado pela teoria do direito natural contratualista, que veio a exercer significativa influência sobre as doutrinas jurídicas propriamente ditas, em especial sobre as declarações de direitos e sobre o nascente constitucionalismo, durante o ocaso do antigo regime. O impacto da doutrina do direito natural sobre aspectos do direito positivo continuaram a aflorar mesmo após os momentos fundacionais do direito ocidental moderno. Ela manifesta-se nas entrelinhas de outras tendências do direito, como a ascensão dos direitos da personalidade no segundo pós-guerra. Logo, a ideia de direitos que emanam diretamente da condição de pessoa humana ecoa esquemas de pensamento e de compreensão do fenômeno jurídico inaugurados pelas escolas do direito natural.
OBJETIVO: Almejamos discutir alguns aspectos das condicionantes do contratualismo históricas de forma a contribuir para o desenvolvimento de uma história das ideias políticas e jurídicas atenta não apenas à sua lógica interna, mas sobretudo aos complexos mecanismos pelos quais ela se relaciona com o mundo dos interesses materiais e dos conflitos políticos e sociais concretos.
MATERIAIS E MÉTODOS: análise qualitativa de conteúdo comparativa entre a literatura do direito natural e as correntes de pensamento contra as quais o direito natural contratualista se confrontou e foi confrontado.
RESULTADOS: A interpretação filosófica dos desafios que a sociedade tinha diante de si dependia das características que a própria racionalidade moderna havia adquirido com o declínio da escolástica. Alguns autores buscam inspiração na matemática para inaugurar um tipo de argumentação que parte exclusivamente da perspectiva do indivíduo e deduz, formas de estado e governo como necessidade racional inscrita na psicologia humana.
CONCLUSÕES: Essa abordagem fazia tábula rasa da história, pondo de lado o conjunto de vínculos sociais aos quais os indivíduos estão submetidos a despeito de sua vontade, em favor da construção de um modelo abstrato e trans-histórico de ser humano, sob o qual se erguerá um modelo também abstrato e pretensamente universal de direito e de estado. Apenas com o historicismo aquelas condicionantes da interação social voltariam a ser tematizadas, aposentando assim o modelo do contrato social e suas abstrações generalizantes para concentra-se sobre aquilo que se mostrava refratário ao racionalismo lógico-formal cartesiano dos modernos filósofos.
Referências
AUBENQUE, Pierre. A prudência em Aristóteles. São Paulo: Discurso Editorial, 2003.
BLUMENTHAL, Uta-Renate. The Investiture Controversy: Church and Monarchy from the Ninth to the Twelfth Century. Pennsylvania: University of Pennsylvania Press, 2010.
BOBBIO, Norberto. O Positivismo Jurídico: lições de filosofia do direito. Tradução de Márcio Pugliesi, Edson Bini e Carlos E. Rodrigues. São Paulo: Ícone, 1995.
BOBBIO, Norberto; BOVERO, Michelangelo. Sociedade e Estado na Filosofia Política Moderna. 2. ed. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. São Paulo: Editora Brasiliense,1987.
BURCKHARDT, Jacob. Die Cultur der Renaissance in Italien: Ein Verſuch. Basel: Druck und Verlag der Schweighauser'schen Verlagsbuchhandlung, 1860.
ENDERLE, Rubens. Apresentação. In: MARX, Karl. Crítica da filosofia do direito de Hegel. 2.ed. Tradução de Rubens Enderle e Leonardo de Deus. São Paulo: Boitempo, 2010, pp. 11-26.
FAZIO FERNÁNDEZ, Mariano. Historia de las ideas contemporáneas: Una lectura del proceso de secularización. 2. Ed. Madrid: Rialp, 2007.
FILMER, Robert. Observations concerning the Original and Various Forms of Government. To which is added, the Power of kings. With directions for obedience to government in dangerous and doubtful times. Vol. 1. London: R. R. C., 1696.
FILMER, Robert. Patriarcha, Or, The Natural Power of Kings. London: R. Chiswel, W. Hensman, M. Gilliflower, and G. Wells, 1685.
FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. 8. ed. Tradução de Salma Tannus Muchail. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
GILLESPIE, Michael Allen. The Theological Origins of Modernity. Chicago: University of Chicago Press, 2008.
GREGORY, Brad Stephan. The Unintended Reformation: How a Religious Revolution Secularized Society. Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 2012.
HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Princípios da filosofia do direito. Tradução de Orlando Vitorino. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
HOBBES, Thomas. O Leviatã. 2. ed. Tradução de João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo: Editora Abril Cultural, 1979.
IPGRAVE, Julia. Adam in Seventeenth Century Political Writing in England and New England. New York: Taylor & Francis, 2016.
JAPPE, Anselm. Alienação, reificação e fetichismo da mercadoria. Limiar. Tradução de Sílvio Rosa Filho. vol. 1, nº 2, pp. 4–29, 1º semestre 2014.
KOSELLECK, Reinhart et al. Staat und Souveränität. In: BRUNNER, Otto; CONZE, Werner; KOSELLECK, Reinhart. Geschichtliche Grundbegriffe: Historisches Lexikon zur politisch-sozialen Sprache in Deutschland. Vol. 6. Stuttgart: Klett-Cotta Verlag, 1990, pp. 1-154.
LILLA, Mark. The Stillborn God: Religion, Politics, and the Modern West. New York: Knopf, 2007.
LOPES, Marisa. O animal político: Estudos sobre justiça e virtude em Aristóteles. São Paulo: Singular, 2008.
LUKÁCS, Georg. Die Zerstörung der Vernunft. Neuwied: Luchterhand, 1962.
LUKÁCS, Georg. El asalto a la razón. 3ª ed. Tradução de Wenceslao Roces. Barcelona, México, D.F.: Grijalbo, 1972.
MACPHERSON, C. B. A Teoria Política do Individualismo Possessivo: de Hobbes até Locke. Tradução de Nelson Dantas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
MARX, Karl. Contribuição à Crítica da Economia Política. 2. Ed. Tradução de Florestan Fernandes. São Paulo: Expressão Popular, 2008.
MARX, Karl. Crítica da filosofia do direito de Hegel. 2.ed. Tradução de Rubens Enderle e Leonardo de Deus. São Paulo: Boitempo, 2010.
MARX, Karl. O 18 de brumário de Luís Bonaparte. Tradução de Nélio Schneider. São Paulo: Boitempo, 2011.
MEINECKE, Friedrich. El historicismo y su génesis. Pánuco: Fondo de Cultura Economica, 1943.
MÉSZÁROS, István. A Teoria da Alienação de Marx. Tradução de Nélio Schneider. São Paulo: Boitempo, 2016.
MONTESQUIEU, Charles. O Espírito das leis. Tradução de Cristina Muracho. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
MORRISON, Karl F. Canossa: a revision. Traditio. New York, n. 18, pp. 121–58, 1962.
NOVELLI, Pedro Geraldo Aparecido. O Estado como verdade da sociedade civil-burguesa. Veritas. v. 55, n. 3, pp. 9-28, set./dez. 2010.
PARKER, Kim Ian. The Biblical Politics of John Locke. Waterloo: Wilfrid Laurier Univ. Press, 2006.
REIS, José Carlos. Wilhelm Dilthey e a autonomia das ciências histórico-sociais. Londrina: EdUEL, 2003.
RIBEIRO, Renato Janine. Ao leitor sem medo: Hobbes escrevendo contra o seu tempo. São Paulo: Editora Brasiliense, 1984.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens. 2. Ed. Tradução de Maria Ermantina Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. O Contrato Social. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
SAVIGNY, Friedrich Carl von. Vom Beruf unserer Zeit für Gesetzgebung und Rechtswissenschaft. Charleston: Nabu Press, 2012.
TRACY, James D. Luther and the Modern State. Vol. VII. Sixteenth Century Essays & Studies. Truman State University Press, 2001.
WEBER, Max. A Política como Vocação. In: WEBER, Max. Ensaios de Sociologia. Tradução de Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: LTC Editora, 2002.
WIEACKER, Franz. História do Direito Privado Moderno. 2. ed. Tradução de António Manuel Hespanha. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1993.
ZUCKERT, Michael P. Natural Rights and the New Republicanism. Princeton: Princeton University Press, 2011.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
Os autores mantêm os direitos autorais e concedem à Revista Brasileira de Estudos Políticos o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution. Essa licença permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista, desde que sem fins comerciais.
É permitido ainda que outros distribuam, adaptem e criem a partir do seu trabalho, sem fins comerciais, desde que lhe atribuam o devido crédito pela criação original.
Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online após o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado.
Authors who publish in this journal agree to the following terms:
The authors maintain the copyright and grant the Brazilian Journal of Political Studies the right of first publication, with the work simultaneously licensed under the Creative Commons Attribution License. This license allows the sharing of the work with authorship recognition and initial publication in this journal, as long as it is not for commercial purposes.
It is also allowed that others distribute, adapt and create from their work, without commercial purposes, as long as they attribute due credit for the original creation.
Authors are allowed to enter into additional contracts separately for non-exclusive distribution of the version of the work published in this journal (e.g., publish in an institutional repository or as a book chapter), with authorship recognition and initial publication in this journal.
Authors are allowed and encouraged to publish and distribute their work online after the editorial process, as this can generate productive changes as well as increase the impact and citation of the published work.