(Sub)representação política feminina e a participação das mulheres em espaços democráticos: examinando conselhos públicos
DOI:
https://doi.org/10.9732/rbep.v1i0.714Resumo
O artigo parte da observação acerca das diferenças historicamente estabelecidas entre homens e mulheres no campo social, evidenciando que o espaço público foi tomado como o locus masculino por excelência, enquanto o espaço privado e doméstico foi o ambiente destinado à mulher. Diante desse cenário, compreende-se a baixa representatividade das mulheres em espaços de poder, algo contestado pelo movimento feminista, que almeja a ampliação do papel da mulher na dimensão política, bem como a ampliação de direitos e a isonomia no tratamento da mulher na sociedade. Observou-se, ainda, no Brasil, a participação das mulheres em espaços de experiências democráticos participativos, sobretudo no âmbito de Conselhos Gestores locais. Nessa perspectiva, o objetivo do trabalho é abordar a sub-representação feminina na política, bem como examinar a qualidade da participação de mulheres nos espaços democráticos. A metodologia é lógica-dedutiva. O trabalho se inicia com a construção histórico-social do papel da mulher na sociedade e perpassa as questões relativas ao movimento feminista. Em seguida, aborda a instrumentalização da participação social no Brasil, evidenciando a representação feminina nesses espaços. Conclui-se que, ainda que tenha ocorrido relevante avanço para as mulheres no espaço público com sua crescente inserção em Conselhos locais, a arena pública ainda é majoritariamente masculina, evidenciando-se, ainda, que os espaços ocupados pelas mulheres possuem intrínseca relação com questões domésticas.
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