(Autonomia do) Direito e desacordos morais

Autores

  • Lenio Luiz Streck RS - Unisinos
  • Gilberto Morbach RS - Unisinos

DOI:

https://doi.org/10.9732/rbep.v119i0.739

Resumo

“Ações afirmativas são justas ou injustas?” “O aborto deve ser permitido ou proibido?” “O Estado deve intervir no que diz respeito à distribuição de renda?”; são muitas as perguntas que ilustram nossos constantes desacordos morais. Em sociedades (cada vez mais) fragmentadas e plurais, é natural que agentes com as mais diversas concepções acerca de conceitos, definições e proposições morais discordem entre si. Partindo desse pressuposto, e, através de uma revisão bibliográfica sob o “método” fenomenológico- -hermenêutico, tomando como base uma releitura (i) do diagnóstico de Alasdair MacIntyre quanto à natureza dos desacordos morais e (ii) das diferentes respostas de Ronald Dworkin e Jeremy Waldron com relação ao papel do Direito nesse cenário, o presente ensaio pretende investigar (i) em que medida os insights de MacIntyre acerca da filosofia moral podem também servir à filosofia jurídica e, com isso, (ii) qual é, de fato, o papel do Direito em face dos desacordos. A pesquisa aponta à ideia de que tanto a busca por uma resolução democrática dos desacordos quanto a melhor interpretação de nossa prática jurídica exigem um elevado grau de autonomia do Direito.

Biografia do Autor

Lenio Luiz Streck, RS - Unisinos

Doutor em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com pós-doutorado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDUL). Professor Titular da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos/RS) e da Universidade Estácio de Sá (UNESA/RJ) e Professor Visitante da Universidade Javeriana de Bogotá, da Universidade de Málaga e da Universidade de Lisboa.

Gilberto Morbach, RS - Unisinos

Mestrando em Direito Público, como bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos/RS). Bacharel em Direito pela Universidade Feevale/RS. Membro do Dasein – Núcleo de Estudos Hermenêuticos e da Associação Brasileira de Direito Processual (ABDPro).

Referências

ALEXANDER, Larry. Precedent. In: PATTERSON, Dennis (ed.). A Companion to the Philosophy of Law and Legal Theory. Oxford: Blackwell, 1996, pp. 493-504.

AYER, A. J. Language, Truth and Logic. Londres: Penguin, 1990.

BAHIA, Alexandre; NUNES, Dierle. Crise da Democracia Representativa – Infidelidade Partidária e seu Reconhecimento Judicial. In: Revista Brasileira de Estudos Políticos, Belo Horizonte, n. 100, p. 57-84, jan./jun. 2010.

BALDWIN, Thomas. George Edward Moore. In: ZALTA, Edward N. (ed.) The Stanford Encyclopedia of Philosophy, Summer 2010 Edition. Stanford, Metaphysics Research Lab, Stanford University. <https://plato.stanford.edu/archives/sum2010/entries/moore>. Acesso em 26 nov. 2018.

BARROSO, Luís Roberto. O Controle de Constitucionalidade no Direito Brasileiro. 7. ed. Rio de Janeiro: Saraiva, 2015.

BARROSO, Luís Roberto; MELLO, Patrícia Perrone Campos; Trabalhando com uma nova lógica: a ascensão dos precedentes no direito brasileiro. Revista da AGU, Brasília, v. 15, n. 03, Editora Fórum, jul./set. 2016, pp. 09-52.

DE MORAIS, Fausto Santos. Ponderação e Arbitrariedade: a inadequada recepção de Alexy pelo STF. Salvador: Juspodivm, 2016.

DWORKIN, Ronald. A Matter of Principle. Cambridge: Harvard University Press, 1985.

_____________. Freedom’s Law: The Moral Reading of the American Constitution. Oxford: Oxford University Press, 2005.

_____________. Justice for Hedgehogs. Cambridge: Belknap Press, 2011.

_____________. Law’s Empire. Londres: Belknap Press, 1986.

_____________. Taking Rights Seriously. Cambridge: Harvard University Press, 1978.

ELLIOTT, E. Donald. INS v. Chadha: The Administrative Constitution, the Constitution, and the Legislative Veto. The Supreme Court Review, ano 1983, Chicago, University of Chicago Press, 1983, pp. 125-176.

FERREIRA NETO, Arthur Maria. Metaética e a Fundamentação do Direito. Porto Alegre: Elegantia Juris, 2015.

HARE, Richard M. The Language of Morals. Oxford: Clarendon Press, 1952.

LAMOND, Grant. Precedent and analogy in legal reasoning. In: ZALTA, Edward N. (ed.). The Stanford Encyclopedia of Philosophy. Spring 2016 ed. Stanford: Metaphysics Research Lab, Stanford University, 2011. Disponível em: <https://plato.stanford.edu/archives/spr2016/entries/legal-reas-prec/>. Acesso em 28 nov. 2018.

LOPES FILHO, Juraci Mourão; MAIA, Isabelly Cisne Augusto. O uso de precedentes estrangeiros e a declaração de Estado de Coisas Inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal. In: Revista Brasileira de Estudos Políticos, Belo Horizonte, n. 117, pp. 219-273, jul./dez. 2018.

MACINTYRE, Alasdair. After Virtue: A Study in Moral Theory. Londres: Bloomsbury, 2007.

MARINONI, Luiz Guilherme. MITIDIERO, Daniel. ARENHART, Sérgio Cruz. O Novo Processo Civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015.

MOORE, G. E. Principia Ethica. Edição revisada, editada e introduzida por Thomas Baldwin. Cambridge: Cambridge University Press, 2002.

RAWLS, John. A Theory of Justice. Edição revisada. Cambridge: Belknap Press, 1999.

RIDGE, Michael. Moral Non-Naturalism. In: ZALTA, Edward N. (ed.) The Stanford Encyclopedia of Philosophy, Spring 2018 Edition. Stanford, Metaphysics Research Lab, Stanford University. <https://plato.stanford.edu/archives/spr2018/entries/moral-non-naturalism/>. Acesso em 26 nov. 2018.

STRECK, Lenio Luiz. Dicionário de Hermenêutica: quarenta temas fundamentais da Teoria do Direito à luz da Crítica Hermenêutica do Direito. Belo Horizonte: Casa do Direito, 2017a.

_____________. A diferença ontológica (entre texto e norma) como blindagem contra o relativismo no processo interpretativo: uma análise a partir de ontological turn. In: Revista Brasileira de Estudos Políticos, Belo Horizonte, n. 89, p. 121-160, jan./jun. 2004.

_____________. Hermenêutica e Possibilidades Críticas do Direito: Ensaio sobre a Cegueira Positivista. In: Revista Brasileira de Estudos Políticos, Belo Horizonte, n. 97, pp. 35-69, 2008.

_____________. Precedentes Judiciais e Hermenêutica: o sentido da vinculação no CPC/2015. Salvador: Juspodivm, 2018.

_____________. Verdade e Consenso: Constituição, Hermenêutica e Teorias Discursivas. 6. ed., revista, modificada e ampliada. São Paulo: Saraiva, 2017b.

TARUFFO, Michele. Aspetti del precedente giudiziale. Criminalia: Annuario di Scienze Penalistiche, Pisa, Edizioni ETS, 2014, pp. 37-57.

VICHINKESKI TEIXEIRA, Anderson; RADKE, Rafael Wagner. Habermas e a tentativa procedimental de superação da discricionariedade judicial. In: Revista Brasileira de Estudos Políticos, Belo Horizonte, n. 115, pp. 81-108, jul./dez. 2017.

WALDRON, Jeremy. Can There Be a Democratic Jurisprudence? Emory Law Journal, Atlanta, vol. 58, 2009a, pp. 675-712.

_____________. The Core of the Case against Judicial Review. The Yale Law Journal, New Haven, vol. 115, 2009b, pp. 1346-1406.

_____________. Judges as Moral Reasoners. International Journal of Constitutional Law, Nova York, n. 07, 2009c, pp. 02-24.

_____________. Law and Disagreement. Oxford: Oxford University Press, 1999.

_____________. Moral Truth and Judicial Review. The American Journal of Jurisprudence, Nova York, vol. 43, 1998, pp. 75-97.

_____________. Refining the Question about Judges’ Moral Capacity. International Journal of Constitutional Law, Nova York, n. 07, 2009d, pp. 69-82.

_____________. The Rule of Law as a Theater of Debate. In: DWORKIN, Ronald; BURLEY, Justine (eds.). Dworkin and his Critics, with replies by Dworkin. Londres: Blackwell, 2004, pp. 319-336.

_____________. Stare Decisis and the Rule of Law: A Layered Approach. Michigan Law Review, Michigan, vol. 111, n. 01, 2012, pp. 01-32.

Downloads

Publicado

2019-11-22

Como Citar

Streck, L. L., & Morbach, G. (2019). (Autonomia do) Direito e desacordos morais. Revista Brasileira De Estudos Políticos, 119. https://doi.org/10.9732/rbep.v119i0.739

Edição

Seção

Artigos