O domínio do corpo feminino
uma abordagem da dimensão pública da violência contra a mulher no Brasil
DOI:
https://doi.org/10.9732/2021.v123.746Resumo
BACKGROUND: Em que pese seja possível verificar avanços recentes no que tange ao enfrentamento, jurídico, da violência de gênero, este fenômeno continua a se mostrar presente, inclusive, tendo se intensificado no período pandêmico atual.
OBJETIVO: Considerando este cenário, este estudo objetiva analisar a configuração de uma dimensão pública da violência de gênero, tomando-a, portanto, como uma violência política e, inclusive estatal, sustentada pela estruturação de uma rede patriarcalista de poder alicerçada na pedagogia da crueldade, que tem, na exposição de domínio sobre o corpo feminino, e na imposição de controle e violência sobre este corpo, a construção do alicerce que sustenta a violência estrutural e sistêmica do estado liberal da modernidade.
MATERIAL E MÉTODOS: Análise qualitativa de bibliografia extensa e especializada. Implementação do método de abordagem histórico e do método de procedimento indutivo, em um caráter qualitativo.
RESULTADOS: Esta pesquisa identificou a existência de uma dimensão pública da violência de gênero, na qual se entrelaçam a violência e a degradação das mulheres como condição de possibilidade e de sustentação do avanço de um projeto político de poder autoritário e violento. Tal dimensão seria autorizativa da violência que, com sua inscrição sobre os corpos das mulheres faz circular marcas de poder de grupos que se comunicam de modo violento, sob o signo da dominação e da transformação de pessoas em mercadorias.
CONCLUSÕES: Este artigo busca refletir acerca da necessária percepção da centralidade que a violência sobre corpos femininos atinge nas estratégias de conquista, implantação e manutenção de uma ordem baseada na dominação autoritária e soberana sobre a vida, que no mais das vezes passam despercebidas sob a lógica privada e individual sob a qual, cotidianamente, são compreendidas as formas de manifestação da violência de gênero.
Referências
AGAMBEN, Giorgio. Profanações. Tradução: Selvino J. Assmann. São Paulo: Boitempo, 2007.
AGAMBEN, Giorgio. O que resta de Auschwitz: o arquivo e a testemunha (Homo Sacer III). Trad. Selvino J. Assmann. São Paulo: Boitempo, 2008.
AGAMBEN, Giorgio. Homo sacer: o poder soberano e a vida nua I. Trad. Henrique Burigo. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.
AGAMBEN, Giorgio. "Deus não morreu. Ele tornou-se Dinheiro". Entrevista com Giorgio Agamben. Instituto Humanitas UNISINOS. 2012. Disponível em: <http://www.ihu.unisinos.br/noticias/512966-giorgio-agamben>. Acesso em: 31 maio 2019.
AMORÓS, Célia. Hacia uma crítica de la razón patriarcal. Barcelona: Anthropos, 1997.
BANDEIRA, Lourdes Maria. Violência de gênero: a construção de um campo teórico e de investigação. Revista Sociedade e Estado, vol. 29, núm. 2, maio-agosto, 2014, pp. 449-469 Universidade de Brasília: Brasília.
BEDIN, Gilmar Antonio. NIELSSON, Joice Graciele. Estado de direito e cultura patrimonialista: o desafio da afirmação da dimensão republicana do Estado brasileiro na atualidade. Pensar. Revista de Ciências Jurídicas, vol. 17, n. 1, 2012.
EFREM FILHO, Roberto. A reivindicação da violência: gênero, sexualidade e a constituição da vítima. Cadernos Pagu (50), Campinas-SP, Núcleo de Estudos de Gênero-Pagu/Unicamp, 2017.
FEDERICI, Silvia. Calibã e a Bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva. Tradução do coletivo Sycorax. Editora Elefante, 2004.
HEILBORN, Maria Luiza; SORJ, Bila. Estudos de gênero no Brasil. In: Miceli, Sergio
(Org.). O que ler na ciência social brasileira (1970-1995). São Paulo; Brasília: Sumaré;
Anpocs, 1999.
HERRERA FLORES, Joaquín. De habitaciones proprias y otros espacios negados: una teoría crítica de las opresiones patriarcales. Spain: Universidad de Deusto, 2005.
LAGARDE Y DE LOS RIOS. Antropología, feminismo y política: violencia feminicida y derechos humanos de las mujeres. 2018. Disponível em: https://www.ankulegi.org/wp-content/uploads/2012/03/0008Lagarde.pdf. Acesso em: 25 fev 2019.
LAGARDE Y DE LOS RIOS, Marcela. Cautiverios de las mujeres: madresposas, monjas, putas, presas y locas. 4. ed. Ciudad del México: UNAM, 2011.
LAGARDE Y DE LOS RIOS, Marcela. El feminismo em mi vida: Hitos, claves y topías. Ciudade del Mexico: Govierno del Distrito Federal, 2012.
LAVAL, Christian; DARDOT, Pierre. A nova razão do mundo - Ensaio sobre a sociedade neoliberal. São Paulo: Boitempo, 2016.
LUGONES, María. Colonialidad y género. Tabula Rasa, Bogotá, n. 9, p. 73-101, jul./dez.
MACHADO, Lia Zanotta. Perspectivas em confronto: relações de gênero ou patriarcado contemporâneo? In: Sociedade Brasileira de Sociologia (Ed.) Simpósio Relações de Gênero ou Patriarcado Contemporâneo, 52ª Reunião Brasileira para o Progresso da Ciência. Brasília: SBP, 2000.
MIGUEL, Luis Felipe; BIROLI, Flávia. Feminismo e Política: uma introdução. São Paulo: Boitempo, 2014.
NIELSSON, Joice Graciele. O controle reprodutivo e a inscrição biopolítica sobre o corpo feminino: contornos do estado de exceção no Brasil contemporâneo. Gênero, sexualidade e direito III. CONPEDI/ UNISINOS Coordenadores: Carmen Hein de Campos; Renato Duro Dias. – Florianópolis: CONPEDI, 2018.
PATEMAN, Carole. O contrato sexual. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993.
PULEO, Alicia. El patriarcado: ¿una organización social superada? In: Mujeres en Red. El periódico feminista, 2005. Disponível em: http://www.mujeresenred.net/spip.php?article739. Acesso em: 02 março 2019.
SAFFIOTI, Heleieth. I. B. Já se mete a colher em briga de marido e mulher. São Paulo em Perspectiva. A violência Disseminada. Revista da Fundação Seade. v. 13, n. 4, São Paulo, Out./Dez. 1999.
SAFFIOTI, Heleieth Iara Bongiovani. Gênero, Patriarcado, Violência. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2004.
SEGATO, Laura Rita. La escritura en el cuerpo de las mujeres asesinadas en Ciudad Juárez. 1a. ed. Buenos Aires: Tinta Limón, 2013.
SEGATO, Rita Laura. Las nuevas formas de la guerra y el cuerpo de las mujeres. Revista Sociedade e Estado - Volume 29 Número 2 Maio/Agosto 2014.
SEGATO, Rita. Manifiesto en cuatro temas. Disponível em: https://ctjournal.org/index.php/criticaltimes/article/view/30. Acesso em: 20 fev. 2019.
STANLEY, Jason. Como Funciona o Fascismo. A política do “nós” e “eles”. 1 ed. Porto Alegre: L&PM, 2018.
WERMUTH, Maiquel Ângelo Dezordi; NIELSSON, Joice Graciele. Ultraliberalismo, evangelicalismo político e misoginia: a força triunfante do patriarcalismo na sociedade brasileira pós-impeachment. Revista Eletrônica do Curso de Direito da UFSM, Santa Maria, RS, v. 13, n. 2, p. 455-488, ago. 2018. Disponível em: < https://periodicos.ufsm.br/revistadireito/article/view/27291 >. Acesso em: 04 março 2019. doi: http://dx.doi.org/10.5902/1981369427291a.
WERMUTH, Maiquel Ângelo Dezordi. NIELSSON, Joice Graciele. O Campo como Espaço da Exceção: uma Análise da Produção da Vida Nua Feminina nos Lares Brasileiros à Luz da Biopolítica. Revista Prim@ Facie, João Pessoa: PPGCJ, v. 15, n. 3, 2016.
WICHTERICH, Christa. Direitos Sexuais e Reprodutivos. Rio de Janeiro: Heinrich Böll Foundation, 2015.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
Os autores mantêm os direitos autorais e concedem à Revista Brasileira de Estudos Políticos o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution. Essa licença permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista, desde que sem fins comerciais.
É permitido ainda que outros distribuam, adaptem e criem a partir do seu trabalho, sem fins comerciais, desde que lhe atribuam o devido crédito pela criação original.
Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online após o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado.
Authors who publish in this journal agree to the following terms:
The authors maintain the copyright and grant the Brazilian Journal of Political Studies the right of first publication, with the work simultaneously licensed under the Creative Commons Attribution License. This license allows the sharing of the work with authorship recognition and initial publication in this journal, as long as it is not for commercial purposes.
It is also allowed that others distribute, adapt and create from their work, without commercial purposes, as long as they attribute due credit for the original creation.
Authors are allowed to enter into additional contracts separately for non-exclusive distribution of the version of the work published in this journal (e.g., publish in an institutional repository or as a book chapter), with authorship recognition and initial publication in this journal.
Authors are allowed and encouraged to publish and distribute their work online after the editorial process, as this can generate productive changes as well as increase the impact and citation of the published work.