A justiça socioambiental historicamente possível

a atribuição de um sentido hermenêutico-concretizador

Autores

  • Jamile Bergamaschine Mata Diz UFMG
  • Márcio Luís de Oliveira UFMG
  • Beatriz Souza Costa Escola Superior Dom Helder Câmara

DOI:

https://doi.org/10.9732/2021.v123.921

Palavras-chave:

ecologismo; justiça ecológica; justiça ambiental; justiça socioeconômica; justiça socioambiental

Resumo

Introdução: a pesquisa aborda a necessidade de analisar a justiça ambiental sob uma perspectiva embasada na hermenêutica concretizadora enquanto instrumento para a efetividade dos postulados normativos presentes no sistema jurídico. Como parte intrínseca da própria existência de premissas que conduzem a um processo fragmentado de acesso à justiça ambiental, nota-se que a hermenêutica, enquanto disciplina e matriz dos fundamentos da normatividade, deve considerar-se como canalizadora da institucionalidade e efetividade dos direitos na seara ambiental. 

Objetivo: o trabalho tem por objetivo estabelecer em que medida as premissas convergentes da justiça ambiental e da justiça socioeconômica se interrelacionam de modo a atribuir um sentido hermenêutico-concretizador para a justiça socioambiental, a partir do exame da natureza ideológica do movimento ecológico, ou ecologismo, bem como da concretização da justiça ambiental numa vertente da hermenêutica concretizadora de tais premissas. 

Material e métodos: as metodologias utilizadas na pesquisa foram a filosófico-especulativa, a analítico-conceitual, a filosófico-dedutiva e a filosófico-normativa, posto que o estudo tem pretensão axiológico-conceitual e processual. Em suas fontes exclusivamente primárias, a pesquisa se pautou pela consulta a textos doutrinários por meio do acesso a acervos bibliográficos, tais como livros e artigos disponibilizados em revistas científicas, inclusive via rede mundial de computadores.

Resultados: como resultado principal pode-se mencionar três pontos específicos: a) pode-se compreender a justiça socioambiental com base na investigação das premissas que se vinculam à justiça holística (ambiental) cuja convergência com as premissas da justiça socioeconômica foram identificadas; b) a historicidade revisitada e atualizada relativa à justiça socioambiental deve imbricar uma concepção que efetive o acesso e seus correlatos direitos e garantias; c) a convergência entre a justiça holística e a socioambiental deve estabelecer-se a partir de uma perspectiva de ressignificação da sensiência e da consciência fundadas numa ordem uma de proteção elevada dos direitos humanos.

Conclusão: o tema da justiça socioambiental, além de ético-filosófico, está correlacionado a inúmeras expressões dos Saberes técnico-científicos e das práticas sociais e institucionais, sendo, pois, transdisciplinar em sua abordagem teórica e como potencialidade histórica; ou seja, como processo em realização e permanentemente revisitado e atualizado em seus sentidos conteudísticos e em suas formas procedimentais. Nessa linha de raciocínio, a justiça socioambiental é uma meta inatingível na sua plenitude ético-filosófica; entretanto, realizável em sua historicidade. Suas bases implicam a concretização possível, progressiva e permanentemente revisitada e atualizada da equidade socioambiental e do compartilhamento decisório em relação à pauta do desenvolvimento socioeconômico e ambientalmente sustentável dos diversos povos e grupos sociais. Para tanto, resta indispensável a formação e a afirmação de novas instâncias políticas, econômicas e jurídicas locais, regionais, nacionais e transnacionais

Biografia do Autor

Jamile Bergamaschine Mata Diz, UFMG

Mestrado em Máster en Instituciones y Políticas de la UE - Universidad Camilo José Cela (2005), Mestrado em Derecho Público - UAH (2003) e Doutorado em Derecho Público - Universidad de Alcalá de Henares (2005). Diretora do Centro de Excelência Europeu Jean Monnet UFMG. Coordenadora da Cátedra Jean Monnet de Direito Comunitário. Professora visitante da Universidade de la Republica do Uruguai, Universidad de Castilla-la Mancha, Universidad de Alcalá de Henares, Universidade de Lisboa e Universidad de Buenos Aires. Professora Associada da Universidade Federal de Minas Gerais, do PPGD da ESDHC e da Fundação Universidade de Itaúna.

Márcio Luís de Oliveira, UFMG

Doutorado e Mestrado em Direito (UFMG); Aperfeiçoamento em Direito Internacional Público e Privado (Países Baixos/Holanda); Professor Associado de Direito Constitucional do Departamento de Direito Público da Faculdade de Direito da UFMG; Professor Adjunto do Doutorado e do Mestrado em Direito Ambiental e Desenvolvimento Sustentável da Escola Superior Dom Helder Câmara; Professor Adjunto do Mestrado da Faculdade Milton Campos; Professor-Visitante na Universidad Complutense de Madrid, Espanha; Professor-Colaborador na The Hague University of Applied Sciences, Países Baixos (Holanda); Consultor-Geral da Consultoria Técnico-Legislativa do Poder Executivo do Estado de Minas Gerais.

Beatriz Souza Costa, Escola Superior Dom Helder Câmara

Pós-doutora em Castilla-La Mancha/Espanha. Doutora e Mestre em Direito Constitucional pela UFMG. Professora na Pós-graduação em Direito Ambiental e Desenvolvimento Sustentável da Escola Superior Dom Helder Câmara e Pró- reitora de Pesquisa da Escola Superior Dom Helder Câmara.

Referências

BENJAMIN, Antônio Herman. A natureza no direito brasileiro: coisa, sujeito ou nada disso. Caderno Jurídico – Escola Superior do Ministério Público de São Paulo, ano 1, n.2, p.149-170, jul. 2001.

CAMBRAIA, Márcio Florêncio Nunes. Os jogos do poder; como entender e analisar a realidade política de um mundo em transformação. 2ª ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2017.

COLLIER, Paul. O futuro do capitalismo; enfrentar as novas ansiedades. Alfragide, Portugal: D.Quixote, 2019.

COSTA, Beatriz Souza. Meio ambiente como direito à vida: Brasil, Portugal e Espanha. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2016.

OLIVEIRA, Márcio Luís de. DIZ, Jamile Bergamaschine Mata; COSTA, Beatriz Souza. Cultura de consumismo e geração de resíduos. Revista Brasileira de Estudos Políticos, v. 116, p. 159-182, 2018. Disponível em:

<https://pos.direito.ufmg.br/rbep/index.php/rbep/article/view/570>. Acesso em: 15 de setembro de 2021.

COSTA, Beatriz Souza; REIS, Émilien Vilas Boas; OLIVEIRA, Márcio Luís de. Fundamentos filosóficos e constitucionais do direito ambiental. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2021.

CUSTÓDIO, Maraluce Maria; OLIVEIRA, Márcio Luís de. Eco-efficiency in bidding processes to purchase everyday supplies for the brazilian federal administration. Veredas do Direito, Belo Horizonte, v.12, n. 24, p.33-61, Julho/Dezembro de 2015. Disponível em: <http://www.domhelder.edu.br/revista/index.php/veredas/article/view/647/454>. Acesso em: 21 de setembro de 2021.

DWORKIN, Ronald. A virtude soberana; a teoria e a prática da igualdade. São Paulo: Martins Fontes, 2016.

FIGUEROA, Robert, MILLS, Claudia. Environmental Justice, p. 426-438. In: JAMIESON, Dale. A Companion to Environmental Philosophy. Malden, Massachusetts: Blackwell Publishers, 2001.

FREEDEN, Michael, SARGENT, Lyman Tower, STEARS, Marc (editores). The Oxford Handbook of Political Ideologies. Oxford: Oxford University Press, 2015.

GARE, E. Arran. Postmodernity and the Environmental Crisis. London: Routledge, 2006.

HARARI, Yuval Noah. 21 licões para o século 21. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.

HOWLETT, Michael, RAMESCH M., PERL, Anthony. Política pública: seus ciclos e subsistemas; uma abordagem integradora. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.

HUMPHREY, Mathew. Green Ideology, p. 422-438. In: FREEDEN, Michael, SARGENT, Lyman Tower, STEARS, Marc (editores). The Oxford Handbook of Political Ideologies. Oxford: Oxford University Press, 2015.

JAMIESON, Dale. A Companion to Environmental Philosophy. Malden, Massachusetts: Blackwell Publishers, 2001.

JONAS, Hans. O princípio responsabilidade; ensaio de uma ética para a civilização tecnológica. Rio de Janeiro: Contraponto: Editora PUC-Rio, 2006.

KOTLER, Philip. Capitalismo em confronto; soluções reais para os problemas de um sistema econômico. Rio de Janeiro: Best Business, 2015.

MACINTYRE, Alasdair Chalmers. After Virtue: A Study in Moral Theory. 3rd Edition. Notre Dame, (IN/USA): University of Notre Dame Press, 2007.

MALIK, Kenan. The Quest For A Moral Compass: A Global History of Ethics. London: Melville House Publishing, 2014.

MATHEWS, Freya. Deep Ecology, p. 218-232. In: JAMIESON, Dale. A Companion to Environmental Philosophy. Malden, Massachusetts: Blackwell Publishers, 2001.

MELLÓN, Joan Antón, TORRENS, Xavier (editores). Ideologias y Movimentos Políticos Contemporâneos. Tercera edición. Madrid: Tecnos, 2016.

OLIVEIRA, Márcio Luís de. A Constituição juridicamente adequada. Belo Horizonte: D´Plácido, 2016.

O´NEILL, John. Meta-ethics, p. 163-176. In: JAMIESON, Dale. A Companion to Environmental Philosophy. Malden, Massachusetts: Blackwell Publishers, 2001.

SCRUTON, Roger. Filosofia verde: como pensar seriamente o planeta. São Paulo: É Realizações, 2016.

SCHMIDTZ, David. Os elementos da justiça. São Paulo: Martins Fontes, 2009.

SEGGER, Marie-Claire Cordonier, WEERAMANTRY, Christopher Gregory. Introduction to Sustainable Justice: Implementing International Sustainable Development Law, p. 1-12. In: SEGGER, Marie-Claire Cordonier, WEERAMANTRY, Christopher Gregory (editors). Sustainable Justice: Reconciling Economic, Social and Environmental Law. Leiden: Martinus Nijhoff Publishers, 2005.

SELLERS, Mortimer N. S. Introduction, p. 1-15. In.: SELLERS, Mortimer N. S (editor). Parochialism, Cosmopolitanism, and Foundations of International Law. University of Baltimore Center for International and Comparative Law. New York: Cambridge University Press, 2014.

SHRADER-FRECHETTE, Kristin. Ecology, p. 304-315. In: JAMIESON, Dale. A Companion to Environmental Philosophy. Malden, Massachusetts: Blackwell Publishers, 2001.

STRÅTH, Bo. Ideology and Conceptual History. p. 3-19. In: FREEDEN, Michael, SARGENT, Lyman Tower, STEARS, Marc. The Oxford Handbook of Political Ideologies. Oxford: Oxford University Press, 2015.

VALLÉS, Josep Maria, PUIG, Salvador Martí i. Ciência política. Edición actualizada. Barcelona: Editorial Planeta, Ciencias Sociales Ariel, 2018.

WALKER, Gordon. Globalizing Environmental Justice: The Geography and Politics of Frame Contextualization and Evolution. Global Social Policy. V. 9, nº 3, p. 355-382, 2009. Disponível em: <https://journals.sagepub.com/doi/10.1177/1468018109343640>. Acesso em: 30 de setembro de 2021.

WENZ, Peter S. Environmental Justice. Albany, New York: State University of New York, 1988.

Downloads

Publicado

2021-12-31

Como Citar

Bergamaschine Mata Diz, J., de Oliveira, M. L. ., & Souza Costa, B. (2021). A justiça socioambiental historicamente possível: a atribuição de um sentido hermenêutico-concretizador. Revista Brasileira De Estudos Políticos, 123, 353-385. https://doi.org/10.9732/2021.v123.921

Edição

Seção

Artigos