A justiça socioambiental historicamente possível
a atribuição de um sentido hermenêutico-concretizador
DOI:
https://doi.org/10.9732/2021.v123.921Palavras-chave:
ecologismo; justiça ecológica; justiça ambiental; justiça socioeconômica; justiça socioambientalResumo
Introdução: a pesquisa aborda a necessidade de analisar a justiça ambiental sob uma perspectiva embasada na hermenêutica concretizadora enquanto instrumento para a efetividade dos postulados normativos presentes no sistema jurídico. Como parte intrínseca da própria existência de premissas que conduzem a um processo fragmentado de acesso à justiça ambiental, nota-se que a hermenêutica, enquanto disciplina e matriz dos fundamentos da normatividade, deve considerar-se como canalizadora da institucionalidade e efetividade dos direitos na seara ambiental.
Objetivo: o trabalho tem por objetivo estabelecer em que medida as premissas convergentes da justiça ambiental e da justiça socioeconômica se interrelacionam de modo a atribuir um sentido hermenêutico-concretizador para a justiça socioambiental, a partir do exame da natureza ideológica do movimento ecológico, ou ecologismo, bem como da concretização da justiça ambiental numa vertente da hermenêutica concretizadora de tais premissas.
Material e métodos: as metodologias utilizadas na pesquisa foram a filosófico-especulativa, a analítico-conceitual, a filosófico-dedutiva e a filosófico-normativa, posto que o estudo tem pretensão axiológico-conceitual e processual. Em suas fontes exclusivamente primárias, a pesquisa se pautou pela consulta a textos doutrinários por meio do acesso a acervos bibliográficos, tais como livros e artigos disponibilizados em revistas científicas, inclusive via rede mundial de computadores.
Resultados: como resultado principal pode-se mencionar três pontos específicos: a) pode-se compreender a justiça socioambiental com base na investigação das premissas que se vinculam à justiça holística (ambiental) cuja convergência com as premissas da justiça socioeconômica foram identificadas; b) a historicidade revisitada e atualizada relativa à justiça socioambiental deve imbricar uma concepção que efetive o acesso e seus correlatos direitos e garantias; c) a convergência entre a justiça holística e a socioambiental deve estabelecer-se a partir de uma perspectiva de ressignificação da sensiência e da consciência fundadas numa ordem uma de proteção elevada dos direitos humanos.
Conclusão: o tema da justiça socioambiental, além de ético-filosófico, está correlacionado a inúmeras expressões dos Saberes técnico-científicos e das práticas sociais e institucionais, sendo, pois, transdisciplinar em sua abordagem teórica e como potencialidade histórica; ou seja, como processo em realização e permanentemente revisitado e atualizado em seus sentidos conteudísticos e em suas formas procedimentais. Nessa linha de raciocínio, a justiça socioambiental é uma meta inatingível na sua plenitude ético-filosófica; entretanto, realizável em sua historicidade. Suas bases implicam a concretização possível, progressiva e permanentemente revisitada e atualizada da equidade socioambiental e do compartilhamento decisório em relação à pauta do desenvolvimento socioeconômico e ambientalmente sustentável dos diversos povos e grupos sociais. Para tanto, resta indispensável a formação e a afirmação de novas instâncias políticas, econômicas e jurídicas locais, regionais, nacionais e transnacionais
Referências
BENJAMIN, Antônio Herman. A natureza no direito brasileiro: coisa, sujeito ou nada disso. Caderno Jurídico – Escola Superior do Ministério Público de São Paulo, ano 1, n.2, p.149-170, jul. 2001.
CAMBRAIA, Márcio Florêncio Nunes. Os jogos do poder; como entender e analisar a realidade política de um mundo em transformação. 2ª ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2017.
COLLIER, Paul. O futuro do capitalismo; enfrentar as novas ansiedades. Alfragide, Portugal: D.Quixote, 2019.
COSTA, Beatriz Souza. Meio ambiente como direito à vida: Brasil, Portugal e Espanha. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2016.
OLIVEIRA, Márcio Luís de. DIZ, Jamile Bergamaschine Mata; COSTA, Beatriz Souza. Cultura de consumismo e geração de resíduos. Revista Brasileira de Estudos Políticos, v. 116, p. 159-182, 2018. Disponível em:
<https://pos.direito.ufmg.br/rbep/index.php/rbep/article/view/570>. Acesso em: 15 de setembro de 2021.
COSTA, Beatriz Souza; REIS, Émilien Vilas Boas; OLIVEIRA, Márcio Luís de. Fundamentos filosóficos e constitucionais do direito ambiental. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2021.
CUSTÓDIO, Maraluce Maria; OLIVEIRA, Márcio Luís de. Eco-efficiency in bidding processes to purchase everyday supplies for the brazilian federal administration. Veredas do Direito, Belo Horizonte, v.12, n. 24, p.33-61, Julho/Dezembro de 2015. Disponível em: <http://www.domhelder.edu.br/revista/index.php/veredas/article/view/647/454>. Acesso em: 21 de setembro de 2021.
DWORKIN, Ronald. A virtude soberana; a teoria e a prática da igualdade. São Paulo: Martins Fontes, 2016.
FIGUEROA, Robert, MILLS, Claudia. Environmental Justice, p. 426-438. In: JAMIESON, Dale. A Companion to Environmental Philosophy. Malden, Massachusetts: Blackwell Publishers, 2001.
FREEDEN, Michael, SARGENT, Lyman Tower, STEARS, Marc (editores). The Oxford Handbook of Political Ideologies. Oxford: Oxford University Press, 2015.
GARE, E. Arran. Postmodernity and the Environmental Crisis. London: Routledge, 2006.
HARARI, Yuval Noah. 21 licões para o século 21. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.
HOWLETT, Michael, RAMESCH M., PERL, Anthony. Política pública: seus ciclos e subsistemas; uma abordagem integradora. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.
HUMPHREY, Mathew. Green Ideology, p. 422-438. In: FREEDEN, Michael, SARGENT, Lyman Tower, STEARS, Marc (editores). The Oxford Handbook of Political Ideologies. Oxford: Oxford University Press, 2015.
JAMIESON, Dale. A Companion to Environmental Philosophy. Malden, Massachusetts: Blackwell Publishers, 2001.
JONAS, Hans. O princípio responsabilidade; ensaio de uma ética para a civilização tecnológica. Rio de Janeiro: Contraponto: Editora PUC-Rio, 2006.
KOTLER, Philip. Capitalismo em confronto; soluções reais para os problemas de um sistema econômico. Rio de Janeiro: Best Business, 2015.
MACINTYRE, Alasdair Chalmers. After Virtue: A Study in Moral Theory. 3rd Edition. Notre Dame, (IN/USA): University of Notre Dame Press, 2007.
MALIK, Kenan. The Quest For A Moral Compass: A Global History of Ethics. London: Melville House Publishing, 2014.
MATHEWS, Freya. Deep Ecology, p. 218-232. In: JAMIESON, Dale. A Companion to Environmental Philosophy. Malden, Massachusetts: Blackwell Publishers, 2001.
MELLÓN, Joan Antón, TORRENS, Xavier (editores). Ideologias y Movimentos Políticos Contemporâneos. Tercera edición. Madrid: Tecnos, 2016.
OLIVEIRA, Márcio Luís de. A Constituição juridicamente adequada. Belo Horizonte: D´Plácido, 2016.
O´NEILL, John. Meta-ethics, p. 163-176. In: JAMIESON, Dale. A Companion to Environmental Philosophy. Malden, Massachusetts: Blackwell Publishers, 2001.
SCRUTON, Roger. Filosofia verde: como pensar seriamente o planeta. São Paulo: É Realizações, 2016.
SCHMIDTZ, David. Os elementos da justiça. São Paulo: Martins Fontes, 2009.
SEGGER, Marie-Claire Cordonier, WEERAMANTRY, Christopher Gregory. Introduction to Sustainable Justice: Implementing International Sustainable Development Law, p. 1-12. In: SEGGER, Marie-Claire Cordonier, WEERAMANTRY, Christopher Gregory (editors). Sustainable Justice: Reconciling Economic, Social and Environmental Law. Leiden: Martinus Nijhoff Publishers, 2005.
SELLERS, Mortimer N. S. Introduction, p. 1-15. In.: SELLERS, Mortimer N. S (editor). Parochialism, Cosmopolitanism, and Foundations of International Law. University of Baltimore Center for International and Comparative Law. New York: Cambridge University Press, 2014.
SHRADER-FRECHETTE, Kristin. Ecology, p. 304-315. In: JAMIESON, Dale. A Companion to Environmental Philosophy. Malden, Massachusetts: Blackwell Publishers, 2001.
STRÅTH, Bo. Ideology and Conceptual History. p. 3-19. In: FREEDEN, Michael, SARGENT, Lyman Tower, STEARS, Marc. The Oxford Handbook of Political Ideologies. Oxford: Oxford University Press, 2015.
VALLÉS, Josep Maria, PUIG, Salvador Martí i. Ciência política. Edición actualizada. Barcelona: Editorial Planeta, Ciencias Sociales Ariel, 2018.
WALKER, Gordon. Globalizing Environmental Justice: The Geography and Politics of Frame Contextualization and Evolution. Global Social Policy. V. 9, nº 3, p. 355-382, 2009. Disponível em: <https://journals.sagepub.com/doi/10.1177/1468018109343640>. Acesso em: 30 de setembro de 2021.
WENZ, Peter S. Environmental Justice. Albany, New York: State University of New York, 1988.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
Os autores mantêm os direitos autorais e concedem à Revista Brasileira de Estudos Políticos o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution. Essa licença permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista, desde que sem fins comerciais.
É permitido ainda que outros distribuam, adaptem e criem a partir do seu trabalho, sem fins comerciais, desde que lhe atribuam o devido crédito pela criação original.
Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online após o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado.
Authors who publish in this journal agree to the following terms:
The authors maintain the copyright and grant the Brazilian Journal of Political Studies the right of first publication, with the work simultaneously licensed under the Creative Commons Attribution License. This license allows the sharing of the work with authorship recognition and initial publication in this journal, as long as it is not for commercial purposes.
It is also allowed that others distribute, adapt and create from their work, without commercial purposes, as long as they attribute due credit for the original creation.
Authors are allowed to enter into additional contracts separately for non-exclusive distribution of the version of the work published in this journal (e.g., publish in an institutional repository or as a book chapter), with authorship recognition and initial publication in this journal.
Authors are allowed and encouraged to publish and distribute their work online after the editorial process, as this can generate productive changes as well as increase the impact and citation of the published work.